O monumento ao índio, na praça Brasil. A capela da Santa Casa, o mercado de Santa Luzia, a ponte do Galo, a praça do Pescador. Era isso Belém para mim, no final dos anos 50. Depois a cidade cresceu aos meus olhos de menino do bairro do Pedreira: agora era também o Ver-O-Peso, a loja da Lobrás, o prédio da Enasa, a subida da Presidente Vargas, o edifício Manuel Pinto da Silva. Trabalhando como office boy (menino de escritório) fui conhecendo o largo de Nazaré.
O mercado e a Estação de trem de São Braz. A praça Felipe Patroni, o terminal dos paus-de-arara que vinham da região da Estrada. A feira com venda de potes, filtros e bilhas na beira do igarapé da Almas, na frente da Tabaqueira, no Reduto. Percorria as palafitas entre os bairros da Pedreira e do Telégrafo a caminho da igreja de São Raimundo, onde fazia parte de um grupo de escoteiros.
O limite da cidade era a Bandeira Branca, ali onde hoje fica o mercado e o teatro do Sesi. O bosque Rodrigues Alves e o Museu Goeldi já eram meus velhos conhecidos desde pequeno. Aquilo era símbolo de lazer, aos domingos, assim como assistir a regata na baía do Guajará. Antes de conhecer os cinemas Olímpia, Palácio, Nazaré e Iracema, eu frequentava os do meu bairro: Paraíso e Vitória. Fui uma vez também no Brasilândia, na Sacramenta, no Art, na praça Brasil e no Popular, defronte da empresa Força & Luz.
A escola era no subúrbio. Primeiro o Justo Chermont, depois no Magalhães Barata (também conhecido como Caranguejo Soçaite, no Telégrafo Sem Fio (que outrora já se chamou bairro São João). Cada descoberta era uma alegria. Foi assim quando fui penetrando nos bairros mais distantes para mim, como era o caso de Batista Campos, Jurunas, Cremação e Condor.
O Guamá e a Terra Firme eu só conheci quando ingressei na Universidade Federal do Pará, no anos 70. Antes de botar o pé no Jurunas, eu já o conhecia de nome (e de fama). Era o bairro do Rancho Não Posso me Amofiná, grande rival do Boêmio da Campina e da minha Embaixada de Samba do Império Pedreirense.
A Cremação eu só percebia pela notoriedade: além de abrigar o forno crematório de lixo, era lá que se realizava o festival de Malhação do Judas no sábado de Aleluia. A Condor era famosa pelas boates. Só muito depois vim a saber que o nome do bairro foi tomado emprestado da empresa Condor (ave), cujos hidroaviões pousavam no leito do rio Guamá. A Campina é a extensão do Comércio, onde também fui descobrir na adolescência que abrigava a Zona do Meretrício.
Nazaré era o único bairro chique da cidade. Por lá passavam os ônibus: Pedreira Nazaré e Sacramenta Nazaré. Para os lados da Marambaia eu não andava muito quando menino. Era longe de casa e a gente tinha medo de se perder. O desconhecido sempre nos assusta. A única referência que a minha turma de rua tinha era a Casa Natal, na equina da Almirante Barroso com a Tavares Bastos. Isso porque a gente já se arriscava a ir até o campo da Tuna Luso Comercial, no bairro do Souza.
Icoaraci, só a passeio. A mesma coisa Mosqueiro, que ainda só tinha um meio de transporte: o navio da Enasa, o Presidente Vargas. Cheguei a viajar de trem para Peixe-Boi, uma lonjura para o meu horizonte de menino. E na volta o vagão em que eu viajava desencarrilhou entre Nova Timboteua e Capanema. Um susto danado e muitas histórias para contar na Mauriti, a rua em que morei nos anos 60.
Quando a gente se torna adulto, o distante fica perto. O medo de se perder já não tem mais sentido. E junto com a gente, a cidade também cresce fisicamente. Hoje, mais de 60 anos depois que comecei a percorrer as suas ruas e bairros, Belém já não me assusta, apesar de que alguns logradouros eu só conheço de passagem, como é o caso do Parque Verde, Cabanagem, Castanheira, Ponta Grossa, Água Boa, Águas Negras, São Clemente, Bom Fim e outros. Mas isso pouco importa.
O que tem significado é que Belém, apesar de maltratada, de ter perdido boa parte de sua área verde e de ter os seus igarapés transformados em valas, ainda permanece um lugar que me encanta e que me faz sentir imensa saudade quando estou longe dela. Parabéns, Belém! (Texto e fotos: Paulo Roberto Ferreira)
Felipe Alves de Macedo, o Filipinho, deixou a Terra. Foi ao encontro de seus companheiros de luta no Araguaia: Raimundo Ferreira Lima (Gringo), João Canuto, Expedito Ribeiro e tantos outros bravos camponeses que lutaram e tombaram na luta pelo direito de viver e produzir no campo. Dedicou seus 81 anos de vida ao cultivo da terra como animador de comunidade, na organização e resistência dos lavradores, em Conceição do Araguaia. Filipinho foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Pará) e membro do Partido dos Trabalhadores. Viveu parte de sua vida sob ameaça de pistoleiros a serviço do latifúndio. O ex-dirigente do STTR fez parte de uma lista de “marcados para morrer”. O repórter-fotográfico João Roberto Ripper, que integrou a agência F-4, fez um registro, em 1980, com seis pessoas ameaçadas: Maria da Guia, Josimar, Filipinho, Oneide Lima (viúva do Gringo), Luiz Lopes e João Pereira. O jornalista, em...





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