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Mostrando postagens de 2017

40 anos de lutas e resistência

Foi uma bela comemoração a festa dos 40 anos da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). Um momento de reafirmar princípios e valores que marcaram a entidade. Por isso mesmo, foram homenageados lideranças que atuaram da fundação até os dias atuais, como as organizações que representam as vítimas da violência na cidade e os que resistem à violência no campo e exigem o direito de morar, produzir e ter uma vida digna. O evento aconteceu no último dia 07 de dezembro/17, na sede do Sindicato dos Urbanitários, em Belém. Fotos de Jean Brito e Paulo Ferreira.

Impactos preocupam moradores do entorno do Pedral do Lourenção

No meio do caminho tem uma pedra. Uma não, uma cadeia de pedras, espalhada em 43 quilômetros no leito do rio Tocantins, dentro do município de Itupiranga, no sudeste do Pará, na Amazônia brasileira. A mais famosa das rochas é conhecida como Pedral do Lourenção, lugar perigoso para a navegação, sobretudo entre setembro e dezembro. A meta do governo federal é remover esse obstáculo à navegação a fim de viabilizar a hidrovia Araguaia-Tocantins durante o ano todo, numa obra que vai custar meio bilhão de reais. Isso facilita o escoamento de minérios, soja e pecuária. Mas ninguém procurou saber a opinião das comunidades que vivem em torno do Pedral, que está desesperada com possíveis consequências negativas em seu cotidiano com obra gigantesca. É assim que funciona a lógica do capital em relação a Amazônia: o grande almoxarifado precisa abastecer o mundo e a população tradicional é apenas um detalhe secundário. Há poucas semanas a revogação de proteção ambiental em área entre o Pará e o Am

Seminário de História na UEPA

Com o tema “História e Políticas: entre conflitos e revoluções”, o curso de licenciatura em História da Universidade do Estado do Pará (UEPA) pretende avaliar e valorizar as memórias das lutas travadas por vários sujeitos, em épocas diferentes: a Revolução Russa, que completa um século; as lutas pela reforma agrária e os conflitos de terra que envolvem os grupos indígenas; a grande revolução popular do século XIX na Amazônia, a Cabanagem, e a memória oral e literária das lutas por igualdade, liberdade e democracia. Estes são alguns dos temas a serem tratados no III Seminário de História da Universidade do Estado do Pará (UEPA), nos dias 27m 28 e 29 de setembro, no auditório Paulo Freire. Vou participar na mesa que debate sobre ditadura em tempos de transição, com o tema do meu livro “A censura no Pará – a mordaça a partir de 1964”. A mesa de abertura do evento vai tratar dos “Arquivos (in) visíveis da ditadura”, com Vicente Rodrigues (Arquivo Nacional). No dia 28 o evento discute sobr

Um morto que sabia nadar

Quando li uma crônica do jornalista João Malato, nos anos 1980 do século passado, no jornal O Liberal, sobre um aspecto da vida da população ribeirinha no arquipélago do Marajó, fiquei ainda mais interessado em conhecer a respeito da cultura dos conterrâneos de Dalcidio Jurandir, o grande escritor brasileiro que nasceu em Ponta de Pedras, como o autor da crônica Malato. Apesar de divergir das posições políticas do cronista, sempre reconheci o seu grande talento na arte da narrativa jornalística. A crônica que me marcou tratava do enterro de uma pessoa que morava no interior do município, cujo corpo precisava ser sepultado na cidade. Mas no meio do caminho os remadores da canoa que conduzia o defunto pararam para “serenar” uma festa enquanto esperavam a maré subir para continuar a viagem. Suponho que o articulista/cronista recolheu o seu material na vasta biblioteca oral da região. E um grupo de jovens atores da Associação Cultural Dalcidio Jurandir resolveu adaptar aquela narrativa num

A violência no campo 33 anos atrás

Em 1984 os conflitos pela posse e uso da terra se agravavam no Pará. O fim do regime militar se aproximava e as forças conservadoras ampliavam os seus domínios e reagiam à organização dos trabalhadores rurais e ao apoio que entidades do movimento social prestavam aos camponeses. A Comissão Pastoral da Terra (CPT), braço da igreja católica, passou a editar um boletim informativo com o nome de “Puxirum” (mutirão) para denunciar a violência contra as populações tradicionais da Amazônia e também divulgar a luta de resistência na terra e o avanço da retomada das entidades sindicais, controladas por pelegos a serviço do latifúndio. Fui chamado para escreve e editar o boletim, a partir da edição nº 2, que passou a ser impresso na Gráfica Suyá, prestadora de serviço da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). A diagramadora era a Isabel Santos, jornalista que trabalhava na redação do jornal O Liberal, e a ilustradora era a Madi (Madeleine) Bedran, que organizava a documentação

O papel do “Alternativa” na UFPA, em 1977

Já se passaram quarenta anos desde aquele maio de 1977, quando circulou o número 2, do “Alternativa”, jornal dos dirigentes dos Diretórios Acadêmicos Socioeconômico, Biomédico e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará (UFPA). Em tempos de ditadura militar a pauta tratava do rompimento do silêncio imposto, com a explosão de manifestações estudantis em todo território nacional. Era o grito contra a falta de verbas e o baixo nível do ensino. E nas questões específicas o jornal denunciava a situação dos cursos de Odontologia e Turismo; o desvirtuamento do papel do monitor; o descaso dos professores que faziam da Universidade um “bico”; as turmas fantasmas que a UFPA ofertava, mas as aulas não aconteciam; e a luta das estudantes universitárias que moravam na Casa das Estudantes do Pará (Caesun). O expediente do jornal revela o medo e o cuidado que as lideranças da época tinham do regime político. A repressão espionava estudantes, professores e funcionários, através da Assessoria d

Marcada para morrer

Esta árvore está com os dias contados para desaparecer, sumir da paisagem urbana. A ceiba pentranda, ou melhor, a samaúma, também conhecida como “rainha da floresta”, “mãe de todas as árvores”, “escada do céu” e “árvore da vida”, teimou em nascer num lugar proibido pelos gestores do espaço urbano. Ela ocupa hoje o canteiro central da rodovia BR-316, em Ananindeua (PA), onde está projetado passar o BRT Belém-Marituba. Fiz o registro para que a gente possa lembrar, no futuro, que uma espécie como esta pode alcançar uma altura de 60 a 70 metros; e que seu fruto produz uma fibra semelhante ao algodão. E assim mais uma dádiva da natureza ficará na nossa memória, como a famosa castanheira que desapareceu da entrada de Belém. Hoje, a única coisa que nos remete a ela é um shopping, construído às proximidades daquela que foi a árvore-símbolo da transição entre o rural e o urbano voraz que “destrói coisas belas”, como diz o poeta baiano.

Recrudescimento da violência no campo

Em 10 de dezembro de 1984 publiquei no jornal O Liberal, onde trabalhava, uma reportagem sobre a violência no campo, fruto de um seminário, realizado em Xinguara, sobre os 20 anos do Estatuto da Terra, que servia apenas para legitimar a concentração da terra e do latifúndio. A ditadura militar estava chegado ao fim e os conflitos fundiários se agudizavam, conjuntura semelhante a esta que estamos vivendo desde maio de 2016, quando um novo golpe foi implantado, agora sem a força das armas, mas produto de uma articulação que envolve o Congresso Nacional (o mais conservador dos últimos anos); a mídia hegemônica; e boa parte o judiciário brasileiro. A tentativa de reduzir os direitos trabalhistas e flexibilizar a venda de terras para estrangeiros, bem como vários retrocessos na política de regularização fundiária, proporcionaram um recrudescimento das mortes no campo. O assassinato da líder do Assentamento 1º de Janeiro, em Castanhal, Kátia Amorim, é um exemplo dessa explosão dos conflitos

Violência, repressão e sequestro de bebês

“Depois da Rua Tutoia”, de Eduardo Reina, será lançado dia 31, em Belém Imagine um parto prematuro sem consentimento da mãe. E realizado clandestinamente. Quando a mãe desperta dos efeitos do sedativo e procura pelo bebê, descobre que simplesmente sua criança desapareceu. A mulher é levada de volta para a cela onde vai conviver com a dor física, o trauma da perda e a incerteza de quanto tempo ainda vai permanecer no cárcere como presa política, enfrentado todo tipo de tortura. Esta trama está narrada no livro “Depois da Rua Tutoia”, de Eduardo Reina, que será lançado em Belém na próxima semana. Jornalista tarimbado e premiado em São Paulo, além de autor e coautor de livros, Reina é um pesquisador dedicado à história recente do nosso País. A convite da Faculdade de Comunicação (Facom/UFPA), Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos (IPF-DH) e Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, ele participa de um mesa de debate no auditório do Capacit, no campus da UFPA, em Belém, no dia