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36 anos da entrevista com Quintino e a resistência camponesa no Alto Guamá

Eu nem lembrava que foi no dia primeiro de agosto de 1984 que publiquei, no jornal O Liberal, a primeira entrevista com Quintino Silva Lira, líder dos posseiros da Gleba Cidapar, que reagiu à grilagem de terras e organizou um grupo para resistir aos pistoleiros da região da Pará-Maranhão (rodovia BR-316) entre os rios Guamá e Gurupi. Quem me ajudou a recordar aquele trabalho foi a pesquisadora Juliana Patrizia Saldanha de Souza, de Santa Luzia do Pará, mestra em Linguagens e Saberes na Amazônia pela Universidade Federal do Pará. Acompanhei desde 1983 aquele conflito fundiário que envolvia 10 mil famílias de pequenos agricultores e empresas agropecuárias, numa área de 387 mil hectares. Compartilho aqui a postagem que a Juliana fez sobre o nosso encontro virtual, em 15/08/20. As fotos são do repórter-fotográfico Alexandre Lima, durante uma de nossas reportagens na Gleba Cidapar, um ano antes da entrevista, em 25 de setembro de 1983. Diário de uma Pesquisadora: QUINTINO LIRA e eu! Juliana Patrizia - https://www.facebook.com/j.patrizia Como todos sabem, já pesquiso a saga de Quintino Lira a bastante tempo e, em alguns momentos, me deparo com situações inusitadas que, agradavelmente, facilita a minha busca por todo tipo de dados, informações documentais, depoimentos (...). Porém, mesmo depois de muito tentar, nunca consegui encontrar o repórter que o entrevistou pois, para mim, era de grande valia ter o depoimento de alguém “de fora” e que, de fato, pela primeira vez, ouvia os motivos que justificavam as ações do Gatilheiro. Nunca o encontrei (infelizmente). Nesse mês, comemora-se 36 anos da primeira entrevista de Quintino ao jornal O Liberal e, também, um ano que concluí o mestrado e, por coincidência, ou obra do destino, hoje (15;08;2020), me deparo com uma postagem no Facebook e lendo sobre as pessoas retratadas na foto, reconheço um nome, penso: será ele? O próprio comenta na postagem e, claro, entro em contato e para minha agradável surpresa – É ele! Paulo Roberto Ferreira. O único repórter, junto com sua equipe, a entrevistar Quintino Lira. Buscando conhecer melhor o “sortudo” repórter, descubro que: Paulo Roberto Ferreira é jornalista e escritor. Mestre em Ciências da Educação, inclusive foi aluno da Profa Dra Violeta Loureiro (autora do único livro publicado sobre Quintino). Começou a trabalhar em jornal em 1975, trabalhou nos jornais O Liberal, A Província do Pará, Gazeta Mercantil, atuou como repórter, redator e editor de jornais e revistas, com passagem pela imprensa alternativa (Bandeira 3 e Resistência) e colaborou com diversas publicações. Foi apresentador e diretor de TV. Participou da coletânea Recortes da Mídia Alternativa, com o artigo “Tempos de Resistência”; é autor dos livros A censura no Pará – a mordaça a partir de 1964; Encurralados na Ponte – o massacre dos garimpeiros de Serra Pelada; e O apagador de floresta; coautor do livro O homem que tentou domar o Amazonas, como também, foi professor de jornalismo. Afffff, fiquei até cansada (rsrsrrs). A minha primeira impressão foi de um homem de pura humildade, pois, no primeiro minuto de conversa (ver fotos), sem me conhecer, já se prontificou a me ajudar (quase desmaio, juro!). Passamos a tarde inteira conversando, trocando informações (eu recebi mais, claro!) Ouvi relatos importantíssimos sobre o momento da primeira entrevista com o Gatilheiro, fui agraciada com fotos inéditas, relatei sobre meus projetos, ouvi conselhos, ou seja, para quem já tinha desistido de ter esse momento com o único repórter que entrevistou Quintino Lira: Ganhei o dia!!! (Deus é mais) Resolvi descrever esse momento, que para mim é único, pois queria dividir com vocês as minhas peripécias, como pesquisadora, que, muitas vezes é cansativa mas também prazerosa; é positiva na coleta de dados mas, em alguns momentos, voltamos de mãos vazias. No entanto, o resultado é valioso e vale a pena. Aproveito para homenagear e a agradecer, imensamente, ao Paulo Ferreira pela gentileza e pelo valioso bate papo, como também, agradecer por ter tido a coragem e o profissionalismo, assim como, o olhar atento a esse “pedaço da história” do Pará, que mesmo sem o apoio logístico, vocês conseguiram embrenhar-se na mata para dar vez e “voz” aos desfavorecidos por meio de Quintino Lira. Parabéns! Fica a pergunta: O que seria de mim "sem" Paulo Ferreira ?? Ps: Em breve publicarei sobre a primeira entrevista de Quintino Lira.

Comentários

  1. Visitei o túmulo do Quintino cerca de 1 kilometro da casa de meu sogro em São José do Piriá.. ( meu sogro foi quem terminou de cavar a profundidade correta para o sepultamento) onde se encontra ao lado seu pai e seu irmão....sou fascinado pela história de Quintino!!!!!

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  2. Meu número 983733971 gostaria de algum material sobre a entrevista e quem sabe trocar alguma informação sobre o assunto.... abraços!!!

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  3. Também sou um curioso sobre as histórias de Quintino. Era apenas um garotinho na então vila de São João de Pirabas, tinha 4 anos de idade e vivia de ouvido ligado no motorádio 4 faixas do meu pai. Meu programa preferido era a "patrulha da cidade", apresentado pelo radialista Adamor Filho "O danado" na rádio Marajoara 1330 AM. mesmo criança, me perguntava o quê teria levado esse homem a matar tanta gente? e se realmente era tudo isso que falavam.
    A resposta veio com uma ligação do próprio Quintino para o programa do Carlos Mendes, na radio Clube 690 AM. Essa conversa pra mim foi esclarecedora, pois falou das injustiças sofridas pela justiça paraense que só favorecia os fazendeiros. (até hoje minha mãe tem dúvidas se realmente eu lembro rsrsr!). Claro que tudo só veio fazer sentido pra mim, muito tempo depois...

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