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Mostrando postagens de 2021

Se ele quisesse falar comigo, iria na minha casa

Muito já se falou sobre a admirável figura do advogado dos direitos humanos, José Carlos Dias Castro, especialmente após sua morte física, ocorrida na última terça-feira (21/12). Eu mesmo publiquei um texto no portal Oestadonet no link abaixo. Mas nunca é demais recordar um episódio que revela uma das características do homem que lutou pela criação da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA. Com voz mansa e forma gentil de tratar as pessoas, Zé Carlos desarmava os seus opositores. Certa vez ele foi ao quartel do I Comar (Comando Aéreo Regional), em Belém, para defender um cliente seu, preso arbitrariamente na época da ditadura. Quando chegou lá travou o seguinte diálogo com o chefe de gabinete do comandante: - Eu quero falar com o comandante. - Mas ele não quer falar com o senhor! - Eu sei, se ele quisesse falar comigo, ele iria na minha casa. Como sou eu que desejo falar com ele, eu vim aqui, na casa dele. O oficial ficou desconcertado, entrou novamente no gabinete e em poucos i

A mulher que recolhia os defuntos

Na estante de madeira, os cadernos organizados. Numerados por ano na lombada e na capa. Os achados, registrados por dia, mês, local, características físicas das pessoas e os supostos instrumentos utilizados contra a vítima. Na página seguinte, cópia do Boletim de Ocorrência e, na sequência, as fotos do cadáver e da quadra onde o corpo estava sepultado. O acervo reúne informações de mais de 20 anos. Entre as décadas de 1970 e 1990. A casa de Nazaré Piedade é referência, na pequena cidade do sul do Pará. É ali, naquela habitação de madeira e não em um prédio público, que muita gente chega com esperança de encontrar pistas sobre pessoas desaparecidas. Piedade, descendente de negros e índios, contava mais de 35 anos de idade quando iniciou o trabalho de acolher os mortos. Viúva, mãe de três filhos, ela nasceu em Barra do Corda, no Maranhão. Migrou para o Pará ainda criança, na companhia dos pais, em busca de terra, no período da safra de castanha-do-pará. As profundas intervenções do Est

Cerco e resistência

O ancião sabia que o quinhão iria acabar. Que aquela onda iria passar. Quando a terra não fosse mais obstáculo aos projetos dos brancos, a fonte de recursos estaria seca. E as castanheiras, cortadas para a passagem da rodovia, da ferrovia e do linhão de energia, fariam muita falta. Mas essas reflexões não eram acolhidas pelos jovens líderes. (...) O tempo passou, o velho cacique viajou para outra dimensão e começou um novo ciclo para o seu povo. Os investimentos feitos pelos jovens caciques fracassaram, vieram dívidas e privações para a comunidade. O trabalho de coleta de castanha voltou, novamente, a ser feito pelos índios, que também retornaram a discutir coletivamente os problemas e desafios que teriam que enfrentar nos anos seguintes. (...) A neta do velho cacique, Naruna, passou a se destacar nas reuniões. Fala mansa e tranquila, a jovem sabia argumentar com firmeza e mansidão contra o que discordava. E apresentava raciocínios sólidos e consistentes quando justificava um caminh

Pela Rota dos Espanhóis

Paulo Roberto Ferreira Um fez o Caminho de Santiago de Compostela (José). O outro o Caminho da Fé (João Batista). Seus relatos vibrantes e carregados nos detalhes sobre paisagens, solidariedade entre os caminhantes e hospedarias simples me despertaram o interesse em fazer a mesma trajetória. Mas descobri que ambos planejavam estimular e realizar rotas regionais. A conversa evoluiu, minha mulher viajou na proposta, chamamos mais pessoas e partimos para o planejamento da primeira caminhada. Assim surgiu a “Rota dos Espanhóis”, uma proposta do amigo José Maria Quadros de Alencar, que já tinha feito, sozinho, a caminhada de Benjamin Constant (Bragança) a São Braz (Belém). E mapeado todo o roteiro para o Caminho da Estrada de Ferro de Bragança (EFB). Como a maioria dos caminheiros era estreante, a opção foi fazer um caminho menor, de 25 quilômetros, por ocasião da festa do santo catalão, São Raimundo Nonato, padroeiro da Colônia Agrícola Benjamin Constant, um ramal do trem da EFB. A conce

“O Estranho Peixe que Pulou”

Domingo é dia de abrir a Caixa de Relíquias. Hoje reli uma matéria publicada há 39 anos nas páginas do jornal “Resistência”. O texto é da Jeanne Marie e foi publicado na página 16 da edição 36 (abril/1982). “O estranho Milton que pintou” revela a opinião do jovem de 19 anos, Milton Cunha Júnior, aluno de psicologia, que causou uma grande vibração no mundo cultural de Belém com sua primeira experiência de direção e atuação de seu texto de teatro: “O Estranho Peixe que Pulou”. O espetáculo foi encenado no teatro “Waldemar Henrique” em dezembro de 1981. “Para alguns, estranho demais. Para outros, foi um dos melhores espetáculos que já pintou em Belém”, escreveu Jeanne Marie. A crítica do jornal O Liberal considerou Milton “a revelação do ano” e seu espetáculo, a melhor peça de teatro adulto da cidade. Milton fala de sua trajetória, sua inspiração para compor as personagens da peça e encerra a entrevista com a seguinte frase: “o novo sempre amedronta, sobretudo numa terra onde se acredi

Acontece cada uma!

Acontece cada situação inusitada em nossas vidas! Nesta semana o meu filho teve que enfrentar a incômoda presença de uma rã dentro do carro. Foi uma luta para se livrar do anfíbio, desde o início da manhã. Tentou de todo jeito, mas o pequeno animal saltava e se esquivava do perseguidor. Sem outro jeito, foi deixando passar as horas, até que já no início da noite, quando retornava para casa, deu carona para sua prima, que quando se deu conta da presença da indesejável passageira, fez o maior barulho, mandou parar o carro e saiu gritado: - Mata, Tiago, mata, mata... Um grupo de pessoas que caminhava no passeio, ficou assustado, parou e ficou olhando a moça assombrada e descabelada que não parava de repetir a frase. Com a porta aberta, o condutor do veículo conseguiu afugentar a perereca, que saltou para fora do carro e caiu justamente em cima da jovem. Ela se apavorou mais ainda e soltou todos os palavrões que lhe vieram à boca, contra o inofensivo caçote. Os transeuntes continuaram as