Paulo Roberto Ferreira Um pássaro grande, desengonçado e estranho considerava-se mais esperto que o caçador. Exibia seu canto e voo triunfal na floresta para atrair o homem e sua arma. Sempre voava na direção de um ninhal de japiim – pássaro de plumagem preta e amarela (às vezes tem parte da plumagem vermelha). Os jappins ficavam irritados com a indesejada presença. Porém, como temiam a ave bizarra e o caçador, faziam um extremo esforço para permanecer em silêncio dentro de seus ninhos, em forma de bolsa, pendurados na árvore onde a sinistra ave fazia seu abrigo provisório. O caçador seguia o voo do Bico de Sapo e, mesmo sem definir onde estava o seu alvo, aprumava a espingarda e atirava meio sem rumo. O extravagante pássaro se camuflava e ficava invisível aos olhos do atirador. Resultado: o homem acertava as aves da espécie cacicus haemoffhous, que morriam dentro dos ninhos. Depois que recolhia seus troféus, o homem se retirava da floresta. Mas o estrago estava feito. A insatisfaç
Memória cultural da Amazônia