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Pela Rota dos Espanhóis

Paulo Roberto Ferreira Um fez o Caminho de Santiago de Compostela (José). O outro o Caminho da Fé (João Batista). Seus relatos vibrantes e carregados nos detalhes sobre paisagens, solidariedade entre os caminhantes e hospedarias simples me despertaram o interesse em fazer a mesma trajetória. Mas descobri que ambos planejavam estimular e realizar rotas regionais. A conversa evoluiu, minha mulher viajou na proposta, chamamos mais pessoas e partimos para o planejamento da primeira caminhada. Assim surgiu a “Rota dos Espanhóis”, uma proposta do amigo José Maria Quadros de Alencar, que já tinha feito, sozinho, a caminhada de Benjamin Constant (Bragança) a São Braz (Belém). E mapeado todo o roteiro para o Caminho da Estrada de Ferro de Bragança (EFB). Como a maioria dos caminheiros era estreante, a opção foi fazer um caminho menor, de 25 quilômetros, por ocasião da festa do santo catalão, São Raimundo Nonato, padroeiro da Colônia Agrícola Benjamin Constant, um ramal do trem da EFB. A concentração dos peregrinos foi marcada para a frente da igreja de São Benedito, em Bragança, local de concentração da Festa da Marujada, de 18 a 26 de dezembro. Fizemos duas reuniões virtuais e recebemos vários links sobre como se deu o deslocamento e instalação dos imigrantes espanhóis, a partir de 1896 na Colônia Benjamin Constant, bem como o histórico de construção, funcionamento e extinção da ferrovia planejada para escoar produtos agrícolas do Nordeste Paraense para abastecer os empreendimentos ligados à economia da borracha. A nossa partida da Região Metropolitana de Belém ocorreu no dia 4 de setembro (percorremos vários sítios onde se encontram vestígios da Estrada de Ferro, mas isso é assunto para outro relato). Nos reunimos em Bragança, à noite, jantamos no Restaurante Brejas & Cia. Gastropub, do Adalberto Ribeiro, que preparou um prato especial: “o cardápio do peregrino”. E às 6h30 do dia 5/9 (domingo) estávamos na porta da igreja de São Benedito. O Marquinho Oliveira já participou de várias trilhas de bike e a Célia França fez algumas caminhadas pelas matas do Parque do Utinga. Eu era o único totalmente inexperiente do grupo. Tomamos café com Bolo de Massa, na porta do Mercado Municipal e seguimos em direção ao monumento em homenagem ao ex-governador Augusto Montenegro, que se empenhou para a conclusão da ferrovia. De lá, em frente ao atual terminal rodoviário, seguimos o traçado da antiga estrada de ferro até a ponte do Sapucaia, sobre o rio Caeté, onde fizemos uma rápida parada para ouvir informações do nosso guia, o Alencar, que é filho de Bragança e neto de espanhóis (família Quadros). Dali seguimos pelas margens da rodovia BR-308 que vai até Viseu e se prolonga por várias cidades do Maranhão. Na entrada da localidade de Jiquiri deixamos a rodovia federal e fizemos uma parada para avaliar os nossos pés. A preocupação do João Batista Barbosa Silva (o pernambucano que virou paraense) era evitar bolhas. Foi ele que cortou e poliu os nossos cajados de bambu (o Alencar colocou as fitas). Dali seguimos pela PA-108 até a vila de Benjamim Constant, a maior parte sem pavimentação. Na casa de um empresário do setor de transporte fizemos mais uma parada: massageamos os pés e reabastecemos nossas garrafas de água. E por generosidade do senhor José Rodrigues, descansamos um pouco na varanda de sua casa, que fica na margem da estrada. Eu senti dores nas costas e me afastei, temporariamente, do grupo, fui para carro de apoio. Por solidariedade, a Célia me acompanhou. Nós dois deixamos de percorrer sete quilômetros na parte da manhã. A chegada na vila de Benjamin Constant foi um grande alívio, pois fazia muito calor e o relógio já marcava 12h30. Fizemos fotos na frente da estação ferroviária e, na casa de familiares do Alencar, descansamos e almoçamos na agradável companhia do casal Odete Risuenho (neta de espanhóis) e Orlando. Após às 15 horas partimos para o último trecho do Caminho. Paramos em frente à capela de São Raimundo Nonato e prosseguimos em direção à Parada 29, onde o trem finalizava sua viagem na colônia agrícola. Ali conversamos com o morador, cuja casa fica em frente ao local onde funcionou a estação da EFB. Missão cumprida. Já passavam das 17 horas. Tempo de voltar para a cidade de Bragança. Apesar do cansaço geral, foi uma experiência de muito aprendizado, de enriquecimento histórico, cultural, turístico e avaliação da nossa resistência física. Ali terminou a Rota dos Espanhóis e começou o planejamento para uma nova, que acontecerá entre os dias 3 e 4 de dezembro: Caminho de São Miguel Arcanjo. A saída é do mesmo local (igreja de São Benedito) e a chegada é na igreja de São Miguel, em Augusto Corrêa, com passagem pelo Mirante de São Benedito e Fazenda Bacuri. As fotos são de Paulo Roberto Ferreira, Célia França, José Quadros de Alencar, João Batista Barbosa e Marcos Oliveira. Mais informações sobre a imigração espanhola e a extinta Estrada de Ferro de Bragança nos links abaixo: https://www.ecoamazonia.org.br/.../espanhois-foram.../ http://www.ioepa.com.br/2012/noticias.aspx?id=6419

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