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Nem Greenpeace e nem o Macron roubaram a cena - Boi Marronzinho, Grupo Tunama e performance dinamizam Semana MultiverCidades

A Semana MultiverCidades da Amazônia:Acesso à Justiça e Direito Cidade movimentou nos dias 5 e 6 de novembro muitos atores sociais, em vários espaços, com uma pauta ampla: acesso à justiça, territórios, biomas, cidadania, degradação, resistência, desesperança, caminhos coletivos, saneamento, inovação, urbano, rural, intercâmbio, violência, preconceito, saberes, vulnerabilidade, etc. Tudo junto e misturado com muita cidadania. Uma sinalização clara que é preciso conhecer, enfrentar e buscar juntos, acadêmicos e lideranças populares, alternativas de solução aos problemas da comunidade.   Teve reunião em auditórios e salas da Universidade Federal do Pará e visitas técnicas às comunidades. Pesquisadores pisaram no chão do Curral Cultural Boi Marronzinho, no bairro da Terra Firme, em Belém, que existe há 32 anos. Além de proporcionar lazer, atua como uma ferramenta de mobilização social e foca sua atuação nas áreas de direito à cidade, sustentabilidade, educação e segurança alimentar. Os participantes do evento ouviram números musicais, logo na entrada do auditório do Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ), executados pelo Grupo Tuna Universitária da Amazônia, formado por  jovens da Faculdade de Música, que resgataram o termo tuna, agrupamento que tem instrumento e voz, e que está na origem do clube Tuna Luso Brasileira, com grande tradição nas modalidades esportivas regata e futebol.   O campus do Guamá em função dos eventos da COP-30 tem um cenário e uma movimentação intensa. Logo após assinar um convênio com o Ministério da Justiça, o reitor Gilmar Pereira da Silva pediu licença para receber o pessoal do Greenpeace, cujo navio atracou no pier da universidade. Mas o encontro da Semana prosseguiu porque, como diz a professora Myrian Cardoso, coordenadora da Clinica MultiverCidades, é preciso combater os irmãos gêmeos da maldade: o latifúndio e a degradação. No outro dia o reitor recebeu o presidente da França, Emmanuel Macron, que também chegou para a Cúpula de Líderes da COP30, mas ninguém saiu do espaço da Clínica MultiverCidades. Lideranças comunitárias cobram recursos financeiros para cuidar dos rios, que agora são chamados de canais e todo o esgoto é despejado no leito dos cursos d’água, como é o caso do  Tucunduba, uma das 14 bacias hidrográficas de Belém.   A liderança comunitária da Terra Firme, José Maria Souza, sonha com uma secretaria para cuidar do rio. Ele recordou o trabalho da bióloga Alba Lins, pesquisadora do Museu Gueldi, que defendia a necessidade de plantar árvores e ajardinar as margens do rio, que corta os bairros do Guamá e Terra Firme. Em torno do Tucunduba já foram plantadas mais de 300 mudas, formando em um verdadeiro corredor verde. Mais é preciso mais, principalmente educação ambiental para manter o que já foi feito e evitar o despejo de lixo no igarapé.  Outra liderança do Paraíso Verde, na área do Curió-Utinga, cobra orientação sobre o valor da indenização que o setor público oferece por uma parte do imóvel que precisa ser retirado das margens do igarapé. Tem gente que vive e cuida do lugar há mais de 30 anos.  A pauta da Semana avança e chega a hora da apresentação dos resultados dos macros e micros diagnósticos que foram objeto de estudos, em vários lugares da Amazônia, pelo pessoal da Residência Multiprofissional de Acesso à Justiça, que reúne profissionais formados em Direito, Comunicação, Arquitetura, Engenharia, Assistência Social e Computação.  A Clínica MultiverCidades surgiu com inspiração na residência médica, explica o professor José Júlio Lima, da área de Arquitetura, Urbanismo e Planejamento. São profissionais já formados que ganham uma bolsa e passam a fazer parte de um grupo multidisciplinar. As demandas chegaram via Ministério da Integração Regional, quando as glebas federais estavam sendo repassadas aos municípios. Poderiam ser genericamente chamada de regularização fundiária. Mas na Clínica, o trabalho vai muito além: envolve pessoas que estão dentro de um território. Então o diagnóstico é muito mais amplo e precisa ter respostas para a área social. A Clínica ampliou o olhar do plano regional para o plano territorial amazônico. Passou a avaliar também a questão da insegurança das pessoas, não só na área rural como nas áreas urbanas. Já foram realizados trabalhos na Transamazônica, no Baixo-Acará, no bairro Aeroportuário, em Macapá e outros locais.  ARTE - Quando as atenções estavam voltadas para os relatos dos jovens residentes, um homem de bermuda e mochila de viagem entra na sala da Clínica, senta e fica ouvindo os relatos. Depois de algum tempo ele levanta e diz que vai embora. Questionado porque está saindo, responde que ali não era o seu lugar. Em seguida faz uma série de questionamento sobre o espaço da cidade para as pessoas pobres.  Depois coloca a mochila no chão, fala alto, se ajoelha e chora. A platéia fica surpresa com aquela situação. Mas na realidade era uma performace do ator, diretor e produtor cultural Eli Chaves, que foi convidado pela professora Myrian Cardoso para dar uma chacoalhada na audiência. Ele utiliza a palhaçaria como ferramenta de mobilização popular. Quando Eli Chaves saiu de cena, ficou difícil de prosseguir com os relatos. Mas logo os trabalhos foram retomados, no final da tarde quente do início de novembro, em Belém.  No dia 7, sexta-feira, pela manhã, as equipes multidisciplinares fizeram avaliações e propuseram um conjunto de ações, que estão sendo sistematizadas para 2026. Houve, ainda, um diálogo com as lideranças da comunidade  do Porto do Ceasa, localizada às margens do rio Guamá, próxima ao Bairro Curió-Utinga. “Vamos sistematizar as sugestões e dar continuidade a abordagem integrada que combina ensino, pesquisa e extensão. É uma contribuição da UFPA para o desenvolvimento econômico e social da região focando as necessidades locais com soluções inovadoras e éticas para as comunidades do território amazônico”, finalizou Myrian Cardoso. Apesar da jornada intensa (de 3 a 7 de novembro), para muita gente ficou um gosto de quero mais.

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