Em 1984 os conflitos pela posse e uso da terra se agravavam no Pará. O fim do regime militar se aproximava e as forças conservadoras ampliavam os seus domínios e reagiam à organização dos trabalhadores rurais e ao apoio que entidades do movimento social prestavam aos camponeses. A Comissão Pastoral da Terra (CPT), braço da igreja católica, passou a editar um boletim informativo com o nome de “Puxirum” (mutirão) para denunciar a violência contra as populações tradicionais da Amazônia e também divulgar a luta de resistência na terra e o avanço da retomada das entidades sindicais, controladas por pelegos a serviço do latifúndio.
Fui chamado para escreve e editar o boletim, a partir da edição nº 2, que passou a ser impresso na Gráfica Suyá, prestadora de serviço da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). A diagramadora era a Isabel Santos, jornalista que trabalhava na redação do jornal O Liberal, e a ilustradora era a Madi (Madeleine) Bedran, que organizava a documentação e os arquivos da CPT. Fui convidado pelo coordenador da Regional Norte II, Pedro Paulo.
A disputa de território na Gleba Cidapar foi um dos destaques da edição, que também abordou a luta das famílias atingidas pela hidrelétrica de Tucuruí, em fase final de construção. Os litígios fundiários revelavam que um fazendeiro comprou terra em Alenquer e tomou posse numa gleba de Santarém. As prisões arbitrárias mostravam o alinhamento da polícia com os fazendeiros, utilizando-se de viaturas do grileiro para executar prisões. Pacajás, na Transamazônica, Rondon do Pará, na antiga PA-70 (hoje BR-222) e em Moju, na PA-252, eram palcos de enfrentamento entre trabalhadores rurais e fazendeiros, que se instalavam nas margens das novas rodovias abertas na Amazônia, e tentavam expulsar, através da grilagem as famílias tradicionais.
O Mapa da violência no campo na região do Araguaia-Tocantins, em 1983, evidenciava que o município paraense de Conceição do Araguaia (antes do desmembramento de Xinguara, Rio Maria, Redenção, Santa Maria das Barreiras e Floresta do Araguaia) era o mais impactado pelos conflitos: 23 mortos; 403 pessoas ameaçadas de morte; 116 feridos e espancados; 1.179 famílias ameaçadas de despejo; 524 famílias despejadas; 114 presos ou detidos; e quatro sequestrados. O segundo lugar no ranking figuravam os municípios de Tocantinópolis; São Félix do Araguaia; Miracema do Norte; Cristalândia; e Porto Nacional.
Esse dados publicados na edição de junho de 1984 do “Puxirum”, servem para refletirmos que apesar de transcorridos 33 anos daqueles registros, o quadro da violência da violência no campo não se alterou muito, pois em junho de 2017 o mapa da CPT aponta para 18 mortos só este ano no Estado do Pará. E as áreas de conflitos estão espalhadas por todas as regiões. Só que agora temos, além da disputa pela terra, outros tipos de conflitos: a questão da água, que envolve famílias afetadas pelas barragens; a extração de minérios, madeiras e outros recursos naturais (Paulo Roberto Ferreira).













O nome completo do coordenador da CPT Regional Norte II em 1984 é: Pedro Paulo Sousa.
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