Crônica publicada originalmente no dia 18 de abril de 2015 no portal Oestadonet.
Paulo Roberto Ferreira
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Hoje é dia de clássico no futebol da Amazônia. Remo e Paysandu se enfrentam pela Copa Verde. O estádio Edgar Proença, o famoso Mangueirão, vai receber em torno de 30 mil torcedores, enquanto um número três vezes maior assiste ao jogo nas casas e nos bares que dispõem de TV por assinatura. A disputa mexe com todo mundo. Rara é a família que só tem torcedor de um clube. Muitos levam na esportiva as gozações dos familiares e amigos. Outros reagem com violência e acabam criando inimizade por causa, justamente, do esporte, que surgiu na Grécia como uma oportunidade de trégua entre as guerras.
O esporte tem essa capacidade de juntar pessoas das mais diferentes posições políticas e ideológicas na mesma arquibancada. É curioso como os torcedores dos dois clubes unem-se na frente do Mangueirão, antes do jogo, para comer churrasquinho, ou comprar bebida. Já depois da partida, cada um sai para um lado e a Polícia no meio, para evitar conflitos, que podem resultar em ferimentos, danos em veículos e até mesmo na prisão dos mais exaltados. Agora existe até juizado especial funcionando dentro dos estádios.
Essas disputas me lembram a experiência que tive num RE X PA. Adolescente, fui ao campo, num domingo, junto com amigos do bairro da Pedreira, meus vizinhos. Na hora de entrar no estádio Evandro Almeida, o Baenão, é que percebi que tinha ficado com um grupo de colegas torcedores do Remo. O jogo começou a esquentar e quando o Papão ameaçava fazer gol eu me animava, mas fui contido pelos amigos, que me advertiram: aqui tu não podes torcer pelo teu time, fica calado. Como eu tinha medo de não acertar voltar para casa, sozinho, aguentei ali, mudo, a vitória do meu time ao lado dos meus amigos remistas.
Pior que conter a euforia foi ter que suportar a guerra de urina que se travava entre torcedores da mesma torcida. Quando começou a chover (o estádio não tinha cobertura), alguns torcedores mais prevenidos abriram seus guarda-chuvas. Pronto. Foi o suficiente para quem estava atrás, encher um saco plástico de urina e atirar no que se protegia da chuva. A reação foi imediata. E atrás de mim, tinha um sujeito que parece que passou a semana toda tomando cerveja e guardou a vontade de urinar para o domingo à tarde.
Muitos gaiatos, já sem estoque de urina, buscavam no grandalhão, atrás de mim, a fonte para carregar suas armas. Os saquinhos giravam na mão dos torcedores para ganhar impulso e fazer estrago no alvo. De baixo para cima, ou de cima para baixo, quando estouravam, provocavam gritarias e protestos. Chegou um momento em que ninguém sabia se olhava para o jogo, ou se defendia da batalha de mijo.
O torcedor, durante uma partida, é pura emoção. Basta alguém fazer um comentário desfavorável ao árbitro, jogador, ou técnico, que vira logo uma palavra de ordem. Outro dia.... Para saber mais, leia na página 83 do livro “Roubaram o meu Libertango”, editado pela Paka-Tatu - https://www.editorapakatatu.com.br/product-page/roubaram-meu-libertango
Felipe Alves de Macedo, o Filipinho, deixou a Terra. Foi ao encontro de seus companheiros de luta no Araguaia: Raimundo Ferreira Lima (Gringo), João Canuto, Expedito Ribeiro e tantos outros bravos camponeses que lutaram e tombaram na luta pelo direito de viver e produzir no campo. Dedicou seus 81 anos de vida ao cultivo da terra como animador de comunidade, na organização e resistência dos lavradores, em Conceição do Araguaia. Filipinho foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Pará) e membro do Partido dos Trabalhadores. Viveu parte de sua vida sob ameaça de pistoleiros a serviço do latifúndio. O ex-dirigente do STTR fez parte de uma lista de “marcados para morrer”. O repórter-fotográfico João Roberto Ripper, que integrou a agência F-4, fez um registro, em 1980, com seis pessoas ameaçadas: Maria da Guia, Josimar, Filipinho, Oneide Lima (viúva do Gringo), Luiz Lopes e João Pereira. O jornalista, em...

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