O ano era 1981 e o mês, novembro. Está lá na página 16, da edição 31 do jornal “Resistência”. A matéria é assinada pela Jeanne Marie e fotos do Miguel Chikaoka. Tem como título “O crítico e alegre teatro de bonecos”. Reportava sobre a chegada a Belém do grupo “Estrela do Norte” liderado por Potenguy Guedes Filho, ou simplesmente Babi Guedes, artista popular do Nordeste, que foi atraído pelo Círio de Nazaré, naquele ano.
Ele montou sua empanada colorida nas praças da República, Batista Campos e ao lado do antigo Cinema Moderno, no largo de Nazaré. Fez a alegria das crianças e dos pais. Ficou em Belém por algum tempo, com seus bonecos de madeira. Fez oficinas em vários bairros periféricos, ensinando o seu ofício; tratou de temas como falta de saneamento, saúde e educação em locais como Terra Firme, Pedreira e Telégrafo.
Babi explicava, a arte do mamulengo (também conhecida como molengo, momolengo ou mamolengo) deriva de mão mole, molenga. E é “uma forma divertida de criticar a realidade social” e mobilizar as pessoas a partir das crianças e jovens, para a necessidade de lutar por mudanças. Ele saiu do Ceará e percorreu vários estados do Nordeste, foi ao Rio de Janeiro, depois Distrito Federal e Goiás antes de chegar a Belém.
O artista cearense explicava que estava preocupado em “mostrar para as novas gerações uma arte que atrai pesquisadores de todo o mundo, pela importância e como elemento de veiculação de ideias e pelo absurdo de ser praticamente desconhecida pelo público das capitais brasileiras”.
O teatro de mamulengo chegou numa hora de grande retomada cultural em Belém, naquele início da década de 1980. Tempo das galerias de fotografias ao ar livre, como o “foto-varal”; os espetáculos cênicos no anfiteatro da Praça da República; as apresentações dos grupos de poesia “Mãos Dadas” e “Fundo de Gaveta”, que declamavam na programação da “Seresta do Carmo”; e também de bandas musicais como “Sol do Meio Dia”, que fazia shows na carroceria de um caminhão, nos bairros de Belém.
Era também o tempo das lutas pela moradia, mobilizadas pelas organizações populares do Jurunas, Terra Firme, Guamá, Telégrafo, Pedreira, Sacramenta e Barreiros. E das notícias dos conflitos do campo, que ocupavam boa parte das edições do jornal “Resistência”, e eram enunciados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH).
Babi Guedes, como bom artista mambembe, nasceu em Fortaleza, mas cedo ganhou a estrada em direção ao Rio de Janeiro, onde cursou (sem concluir) direção teatral na UFRJ. Dali rumou para Campinas (SP) onde ingressou no Teatro de Cultura Popular do Nordeste, em 1976. “Em 1979 ingressou no Grupo Carroça de Mamulengos, em Brasília, com o qual circulou pelas regiões Centro-Oeste e Nordeste. Em 1980, fundou em Fortaleza o Mamulengo Estrela do Norte” (https://www.cearaenoticia.com.br/2017/02/fulo-da-aurora-faz-show-nesta-sexta-em.html).
Babi Guedes, que era poeta, ator, compositor, cordelista e bonequeiro (como ele se autodefinia) enviou-me, pelo correio, em 2002, o seu segundo livro “Da borduna à Cibernética”, ilustrado por Audifax Rios, com 1.150 sextilhas. A primeira obra foi “Canudos, a saga do povo nordestino”, com ilustração de Valdério Costa.
Marcus Peixoto, do Diário do Nordeste, escreveu que “Babi teve a ideia de recontar Canudos com a poética do cordel, entendendo que assim obteria mais fácil compreensão”. E prossegue: “seu intuito foi mais além. Acabou criando mais de 1.200 sextetos, com métrica e rima, que permitem que sejam cantados numa cadência melódica” (https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/canudos-resiste-nos-poemas-em-cordel-do-poeta-babi-guedes-1.389464).
Babi morreu em 2014, aos 60 anos de idade, mas não foi esquecido. Seus parceiros e admiradores já realizaram várias homenagens a ele, um dos nomes mais representativos da cultura popular brasileira. Em 2017, o grupo “Fulô da Aurora”, fez um show chamado “Fulô do Mamulengo”, no Teatro Carlos Câmara, em Fortaleza.
E como escreveu Marcellus Rocha, no portal Ceará é Notícia: "É um momento de recordar a parceria artística que resultou na gravação do disco 'Viva o Nordeste', de 2008, e na partilha dos palcos entre 2007 e 2014. Recordar as muitas serestas, os encontros poéticos, os bate-papos sonoros, sempre cheios de muitas histórias”, destaca Fabiano de Cristo, um dos integrantes do Fulô da Aurora https://www.cearaenoticia.com.br/2017/02/fulo-da-aurora-faz-show-nesta-sexta-em.html).
Obrigado, Babi, pela tua presença entre nós e pela semente da tua arte, plantada aqui na Amazônia (Paulo Roberto Ferreira).
Felipe Alves de Macedo, o Filipinho, deixou a Terra. Foi ao encontro de seus companheiros de luta no Araguaia: Raimundo Ferreira Lima (Gringo), João Canuto, Expedito Ribeiro e tantos outros bravos camponeses que lutaram e tombaram na luta pelo direito de viver e produzir no campo. Dedicou seus 81 anos de vida ao cultivo da terra como animador de comunidade, na organização e resistência dos lavradores, em Conceição do Araguaia. Filipinho foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Pará) e membro do Partido dos Trabalhadores. Viveu parte de sua vida sob ameaça de pistoleiros a serviço do latifúndio. O ex-dirigente do STTR fez parte de uma lista de “marcados para morrer”. O repórter-fotográfico João Roberto Ripper, que integrou a agência F-4, fez um registro, em 1980, com seis pessoas ameaçadas: Maria da Guia, Josimar, Filipinho, Oneide Lima (viúva do Gringo), Luiz Lopes e João Pereira. O jornalista, em...









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