Este ano de 2020 completei 45 anos de jornalismo. Iniciei na imprensa alternativa, no jornal “Bandeira 3”, editado por Lúcio Flávio Pinto. Em 1976 fui para a grande imprensa, ingressando na redação de O Liberal, onde publiquei minha primeira matéria assinada: “Tomé-Açu em busca de uma alternativa”. A reportagem, com fotos do veterano Raimundo Favacho, mostrava o impacto da fusariose, doença que dizimou o plantio de pimenta-do-reino no vale do Acará.
Naquela época, os jornais disputavam a preferência do leitor pautando temas fora do cotidiano, especialmente nas edições de domingo. O termômetro que media a recepção do conteúdo eram as cartas, o aumento da venda avulsa e, em alguns casos, a inserção de matérias nos anais das casas legislativas. Às vezes, os textos, fotos e ilustrações, provocavam reações de autoridades, lideranças comunitárias, empresariais, etc e permitiam uma suíte, que no jargão jornalístico significa explorar o desdobramento de uma notícia ou reportagem.
Em 9 de abril de 1984 publiquei a reportagem “Açaí: o boi vegetal”, sobre o múltiplo uso dos produtos da palmeira nativa conhecida cientificamente como “Euterpe oleracea”. Dias depois o editor-chefe do jornal, Cláudio Sá Leal, mestre de várias gerações de jornalistas, recebeu uma correspondência, assinada por uma paraense que morava em Brasília, para contestar parte do que eu escrevera.
A matéria citava o pesquisador da Embrapa, Benito Calzavara. E afirmava que do caule ao caroço do açaí, tudo pode ser aproveitado e transformado em produtos que vão da alimentação ao papel. A frase que mereceu reparo do leitor Osmar Cavalcante foi: “já se fala até que os russos estão interessados em produzir álcool carburante a partir da utilização do caroço”.
Em sua mensagem, o leitor destaca a importância da reportagem, que classifica de “magnifica” mas ressalva que “não foram os russos “que enxergaram mais longe” (como destacado do “olho” da matéria), mas do autor das linhas enviadas ao jornal: “os russos dispõem da tecnologia da hidrólise ácida, porém a ideia, o esforço para que se torne realidade, é nossa, deste modesto lutador pelas coisas do Pará”.
Relata Cavalcante que depois de muito empenho conseguiu o apoio da “União Soviética, através de sua representação comercial, que encaminhou meu apelo a Moscou”. E que a resposta dos russos foi positiva em “colaborar cm o fornecimento da tecnologia e financiamento para construção da primeira Usina de Álcool do Açaí”.
Diz ainda o missivista que encaminhou a proposta e a resposta dos parceiros ao governador da época, o atual senador Jader Barbalho. Desconheço se houve algum tipo de tratativa entre o governo paraense, via Ministério das Relações Exteriores, e o governo de Moscou, ou se a intenção de Osmar Cavalcante morreu nos labirintos da burocracia estatal. O importante é destacar que existe leitor atento a tudo que se publica, e quando ele se manifesta, a interatividade (que hoje ocorre em tempo real) enriquece o jornalismo e a comunicação. E quem ganha é a sociedade (Paulo Roberto Ferreira).











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