A tentativa de esconder os números da evolução da Covid19 lembra o episódio da censura que a Ditadura Civil-Militar de 1964 impôs à mídia, por ocasião do surto de meningite no Brasil, na década de 1970, conforme a matéria “Meningite, a epidemia que a ditadura não conseguiu esconder”, publicada no site do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=216). E também o material do portal UOL “Surto de meningite na década de 70: o desastre da ditadura militar brasileira” https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/surto-de-meningite-na-decada-de-70-o-desastre-da-ditadura-militar-brasileira.phtml.
Tratei deste tema no meu livro “A Censura no Pará – a mordaça a partir de 1964”, publicado em 2015 pela editora Paka-Tatu. A partir da página 146, com o subtítulo “No microscópio do Exército”, conto o caso envolvendo o jogador de futebol Oliveira Pipoca, da Tuna Luso Brasileira, que morreu em 1975, em Belém, de uma doença estranha.
A família ficou desesperada porque o tempo se passava e o Instituto Médico Legal (IML) não liberava o laudo atestando a causa do falecimento. Suspeitou-se de meningite. Mas, naquela época, o tema não era tratado como saúde pública, e sim como segurança nacional. Quem liberava informações, aos poucos jornalistas interessados em furar o bloqueio da ditadura militar, eram oficiais do quartel geral do Exército. Nélio Palheta e Expedito Leal revelam a paranoia na época do regime militar sobre o surto de meningite, que se alastrou país afora.
Transcrevo, abaixo, parte do material publicado no livro, no capítulo V, cujo título é: “Perseguições atingem radialistas e jornalistas”:
No microscópio do Exército
José Nélio Palheta recorda de um episódio que ocorreu nos anos 70 e que revela bem o controle da informação pelas forças militares. As notícias sobre uma questão de saúde pública passaram a ser monitoradas pelo próprio Exército:
“A epidemia de meningite, que teria começado por São Paulo (acho que foi 1974 ou 1975), fez milhares de vítimas e se espalhou pelo País. Tão grave, foi tratada como questão de segurança nacional. Por isso, em vez de o Ministério da Saúde comandar a operação, foi o Exército que executou a campanha, responsável pela logística e articulação com os hospitais. No Comando da 8ª RM funcionava um QG da Meningite. A imprensa tinha fácil acesso, mas não se falava em número de mortos, vítimas internadas nos hospitais. Foi uma questão grave. Virou uma paranoia para o governo, a ponto de proibirem a divulgação das ocorrências de vítimas”.
O jornal A Província do Pará, onde Nélio Palheta trabalhava, publicava páginas e páginas de matérias sobre a meningite. Ele era chamado na redação de “Repórter da Meningite”. Mas as matérias eram mais para orientar a população, prepará-la para a vacinação e menos para falar do que estava de fato acontecendo com a saúde pública nacional. Ou seja, não era permitido aprofundar nada sobre o tema:
“Por um artifício, obtínhamos informações sobre mortes por meningite na região. Copiava-se na central de telex da ECT, na Av. Presidente Vargas, as mensagens da Delegacia Regional do Ministério da Saúde, então chefiada pelo médico Rainero Maroja (também Provedor da Santa Casa de Misericórdia, sempre disponível, porém reservado quando se tratava de meningite). A Delegacia do Ministério usava o telex público para enviar os relatórios para Brasília. O Lúcio Flávio Pinto, do Estadão, obtinha as estatísticas da meningite no Pará e no Maranhão, porque era amigo dos operadores da central de telex, e eles reproduziam a mensagem rodando a fita perfurada de códigos do telex. Tudo com o devido cuidado para não prejudicar os operadores do telex, caso contrário, eles seriam presos. E publicava-se, mesmo, apesar da censura. Não lembro de alguma ação de censores na redação do jornal impedindo essas matérias. Só nós da Província tínhamos essas informações reservadas, obtidas por meio do Lúcio Flávio”.
Até um jogador de futebol morreu com suspeita de meningite, porém o regime militar fazia tudo para esconder os óbitos da opinião pública. O jornalista Expedito Leal viveu uma experiência para tentar desvendar o mistério da causa mortis de um atleta da Tuna Luso Brasileira. Como editor de uma revista esportiva e assessor jurídico de uma instituição pública, procurou o diretor do Instituto Médico-Legal, onde travou um diálogo duro diante da intransigência do chefe da unidade que cuida de necropsia:
“O jogador Oliveira Pipoca, da Tuna, teve morte repentina e comentava-se que ele teria morrido em decorrência da doença. Mas nada oficial. Nesse tempo [1975], eu era o assessor jurídico da antiga ACAR-PA, a Emater de hoje. Minha secretária era uma das irmãs do Oliveira Pipoca. A Ruth não me confirmava que ele havia morrido realmente de meningite, pois a Polícia ainda não liberara o atestado de óbito. Alegavam que estavam ainda estudando os laudos técnicos. Mas a família dele, pelos sintomas e da maneira como morreu, quase que confirmava a doença. Como repórter da GOL (eu era o chefe de reportagem da revista), fui ao Instituto Médico-Legal todo paramentado: terno completo, que era como eu trabalhava na ACAR. O chefe do IML era um médico grosso, salvo engano de nome José Maria Souza ou coisa parecida. Junto com outros colegas, ele começou a discutir comigo quase gritando, que nada estava confirmado sobre a meningite. Eu também engrossei. E fiz ver a ele que, além de jornalista, eu era também advogado e que o jogador tinha status de pessoa pública e só por isso eu estava lá e queria confirmar a doença. Mas no fundo eu estava meio temeroso que pudesse acontecer algo depois. O legista Clarindo Martins, que foi meu professor de Medicina-Legal na antiga Faculdade de Direito, procurou contornar o mal-estar, e o José Maria Souza, mais temperamental que violento, se acalmou e tudo acabou em pizza, e a GOL terminou por confirmar que a morte fora mesmo por meningite”.
A revista GOL era editada em Belém pelos jornalistas Emanuel ‘O de Almeida, Guilherme Barra, Euclides Bandeira, José Maria Leal Paes, Expedido Leal, Antônio José Soares, Eloy Lins, entre outros que colaboravam com as belas e importantes reportagens esportivas (Paulo Roberto Ferreira).
Encontrei no site MFRural(http://www.mfrural.com.br/busca.aspx?palavras=grude)o seguinte anúncio: "Estou a procura de bucho ou grude de pescada amarela ou corvina para exportar para Hong Kong/China e Estados Unidos". Trata-se de um espaço virtual onde compradores e vendedores se encontram para fechar negócios sobre produtos do campo e da água. Então pude compreender melhor a importância do anúncio que vi e fotografei na orla do município de Vigia de Nazaré, na região do Salgado, no Pará. A grude ou bexiga natatória de determinadas espécies de peixes ósseos, auxilia o animal a se manter em determinadas profundidades. Após ser beneficiada, a grude tem diversos usos, como colas de alto teor de adesão, bem como pode ser utilizado pela indústria espacial em operações cirúrgicas de alta precisão. O pescador coloca para secar por três a quatro dias a grude antes de vender por um preço que varia entre R$ 20 e R$ 30. Mas em grande quantidade o preço no mercado exportador chega até R...
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