Pular para o conteúdo principal

João Maria, missionário dos direitos humanos

Passou um filme pela minha cabeça ao tomar conhecimento do falecimento, hoje (02/07/20), do Padre João Maria Van Doren, 89 anos, missionário holandês da Congregação dos Crúzios, que chegou a Belém na década de 1960. Convivi com ele na igreja de Nossa Senhora Aparecida, em Belém, a partir de 1978. Era homem de diálogo fácil, fala mansa e de muita habilidade na condução dos temas espinhosos da época da ditadura militar de 1964. Conseguiu convenceu o Conselho Paroquia a ceder um espaço, nos altos do salão anexo à igreja, para abrigar a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos humanos (SDDH), que ele ajudara a fundar em agosto de 1977. Foi ali, no salão da sua paróquia, que se reuniram as lideranças que fundaram a Comissão dos Bairros de Belém (CBB); de oposições sindicais; e as assembleias da própria SDDH e seus núcleos: de Imprensa (Jornal Resistência), Anistia e Jurídico. João Maria levou à risca a opção preferencial pelos pobres que a igreja católica fez a partir do Concílio Vaticano II. Escolheu morar numa casa simples, de madeira, construída em cima do igapó, na passagem Saldanha Marinho, na região conhecida até então como bairro do Acampamento, na Pedreira. Ao lado da casa da minha família ele espalhou amor. Conversava com todos, consolava os aflitos, tinha sempre uma palavra de acolhimento e de encorajamento à luta por direitos. Fosse onde fosse, na rua, na casa ou na paróquia, João Maria semeava fraternidade. Descansa em paz, companheiro.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filipinho, um exemplo de coragem e resistência

Felipe Alves de Macedo, o Filipinho, deixou a Terra. Foi ao encontro de seus companheiros de luta no Araguaia: Raimundo Ferreira Lima (Gringo), João Canuto, Expedito Ribeiro e tantos outros bravos camponeses que lutaram e tombaram na luta pelo direito de viver e produzir no campo. Dedicou seus 81 anos de vida ao cultivo da terra como animador de comunidade, na organização e resistência dos lavradores, em Conceição do Araguaia. Filipinho foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Pará) e membro do Partido dos Trabalhadores. Viveu parte de sua vida sob ameaça de pistoleiros a serviço do latifúndio. O ex-dirigente do STTR fez parte de uma lista de “marcados para morrer”. O repórter-fotográfico João Roberto Ripper, que integrou a agência F-4, fez um registro, em 1980, com seis pessoas ameaçadas: Maria da Guia, Josimar, Filipinho, Oneide Lima (viúva do Gringo), Luiz Lopes e João Pereira. O jornalista, em...

O valor da grude para o pescador de Vigia

Encontrei no site MFRural(http://www.mfrural.com.br/busca.aspx?palavras=grude)o seguinte anúncio: "Estou a procura de bucho ou grude de pescada amarela ou corvina para exportar para Hong Kong/China e Estados Unidos". Trata-se de um espaço virtual onde compradores e vendedores se encontram para fechar negócios sobre produtos do campo e da água. Então pude compreender melhor a importância do anúncio que vi e fotografei na orla do município de Vigia de Nazaré, na região do Salgado, no Pará. A grude ou bexiga natatória de determinadas espécies de peixes ósseos, auxilia o animal a se manter em determinadas profundidades. Após ser beneficiada, a grude tem diversos usos, como colas de alto teor de adesão, bem como pode ser utilizado pela indústria espacial em operações cirúrgicas de alta precisão. O pescador coloca para secar por três a quatro dias a grude antes de vender por um preço que varia entre R$ 20 e R$ 30. Mas em grande quantidade o preço no mercado exportador chega até R...

Após o regatão, o rádio e a televisão

Atendendo ao pedido de várias pessoas, publico abaixo o artigo apresentado em 2005, em Novo Hamburgo (RS), no 3º Encontro Nacional da Rede Alfredo Carvalho (Rede Alcar), no GT sobre História do Rádio. Após o regatão, o rádio e a televisão Paulo Roberto Ferreira Resumo: A primeira emissora de rádio surgiu na Amazônia em 1928. Foi a Rádio Clube do Pará, em Belém, que teve um papel muito importante como veículo de integração. Antes do rádio, o contato entre o homem do interior da região e o mundo urbano, era feito pelo barco que abastecia os seringais e pequenas povoações com suas mercadorias. A “casa aviadora” ou “regatão” quebrava o isolamento e levava também as cartas dos parentes que viviam nas localidades, às margens dos rios. A televisão só chegou em 1961. Em Manaus muita gente captava o sinal de uma emissora da Venezuela, antes da chegada da primeira TV local. Mas, ainda hoje, na era da comunicação digital, o rádio cumpre importante papel na Amazônia, já que naquele imenso...