Muito já se falou sobre a admirável figura do advogado dos direitos humanos, José Carlos Dias Castro, especialmente após sua morte física, ocorrida na última terça-feira (21/12). Eu mesmo publiquei um texto no portal Oestadonet no link abaixo.
Mas nunca é demais recordar um episódio que revela uma das características do homem que lutou pela criação da Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA. Com voz mansa e forma gentil de tratar as pessoas, Zé Carlos desarmava os seus opositores. Certa vez ele foi ao quartel do I Comar (Comando Aéreo Regional), em Belém, para defender um cliente seu, preso arbitrariamente na época da ditadura. Quando chegou lá travou o seguinte diálogo com o chefe de gabinete do comandante:
- Eu quero falar com o comandante.
- Mas ele não quer falar com o senhor!
- Eu sei, se ele quisesse falar comigo, ele iria na minha casa. Como sou eu que desejo falar com ele, eu vim aqui, na casa dele.
O oficial ficou desconcertado, entrou novamente no gabinete e em poucos instantes voltou e mandou o advogado entrar. O comandante estava sentado no tampo da mesa, com as pernas cruzadas. Zé Carlos puxou uma cadeira e sentou-se. O chefe militar deu um berro e indagou:
- Quem mandou o senhor sentar-se?
- Na minha casa, eu converso com as pessoas de igual para igual. Elas sentam e a gente dialoga.
- Retire-se daqui!
- Eu vou me retirar comandante. Mas queria lhe dizer que o meu desejo é resolver isso de forma administrativa. Diante do seu comportamento serei obrigado a recorrer ao Tribunal. Não existe ordem judicial para justificar a prisão do meu cliente, que também não foi apanhado em nenhum ato ilícito, em flagrante. Tenha um bom dia.
O advogado pegou um taxi e foi para o seu escritório. Poucos minutos depois recebeu uma ligação do filho do seu cliente.
- Obrigado, doutor. Meu pai está livre.
https://www.oestadonet.com.br/noticia/21075/ze-carlos-castro-e-sua-luta-pelos-direitos-humanos/
Felipe Alves de Macedo, o Filipinho, deixou a Terra. Foi ao encontro de seus companheiros de luta no Araguaia: Raimundo Ferreira Lima (Gringo), João Canuto, Expedito Ribeiro e tantos outros bravos camponeses que lutaram e tombaram na luta pelo direito de viver e produzir no campo. Dedicou seus 81 anos de vida ao cultivo da terra como animador de comunidade, na organização e resistência dos lavradores, em Conceição do Araguaia. Filipinho foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Pará) e membro do Partido dos Trabalhadores. Viveu parte de sua vida sob ameaça de pistoleiros a serviço do latifúndio. O ex-dirigente do STTR fez parte de uma lista de “marcados para morrer”. O repórter-fotográfico João Roberto Ripper, que integrou a agência F-4, fez um registro, em 1980, com seis pessoas ameaçadas: Maria da Guia, Josimar, Filipinho, Oneide Lima (viúva do Gringo), Luiz Lopes e João Pereira. O jornalista, em...
Comentários
Postar um comentário