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Maria Firmina e Felipa Aranha

Neste mês da Consciência Negra recomendo a leitura de dois livros maravilhosos. O primeiro é “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis, e o segundo é “Felipa Aranha - A guerreira da Amazônia”, de Rusevelt Silva Santos. “Úrsula” foi o primeiro romance escrito por uma mulher negra, nordestina e precursora do Abolicionismo. Em São Luís (MA), onde nasceu, existe um busto da autora na Praça do Pantheon. E no centro da cidade foi inaugurado o Solar Cultural da Terra de Maria Firmina dos Reis, na rua Rio Branco. Já o escritor Rusevelt Santos, autor de “Felipa Aranha - A guerreira da Amazônia”, nasceu em Xambioá (TO) e mora em Tucuruí (PA). Ele pesquisou e romanceou a história de Felipa Aranha, que foi arrancada da África e vendida no Ver-o-Peso para um fazendeiro do Baixo Tocantins, passou por todo tipo de maus-tratos e violência. Quando se tornou adulta fugiu do cativeiro e liderou um movimento que libertou centenas de escravos e fundou vários quilombos, onde hoje estão delimitados os municípios
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“Olho de boto”, o amuleto que virou canção

Transcrito do blog Memórias do Pará, de José Carneiro Certamente muitas pessoas – ainda que nativas destas paragens amazônicas – não sabem o que é, ou simplesmente nunca viram, um olho de boto. Ao vivo, por exemplo, é empreitada um tanto difícil pois mesmo quando se percebe os simpáticos cetáceos por perto de alguma embarcação, raramente se consegue observar bem os seus os olhos, quase sempre semi-abertos. Por outro lado, boa parte da população sabe para que serve o olho de boto que se compra nas feiras, nas barracas de venda de mandingas, simpatias, banhos e outras coisas do gênero. Você, caro leitor, sabe pra que serve o olho de boto? Conforme uma mandingueira que entrevistei na feira do Ver-o-Peso para tratar deste assunto, ele serve para suprir quase todas as carências do ser humano, sendo tantas as suas finalidades benfazejas que não tenho espaço suficiente para relacioná-las. Um exercício de imaginação de qualquer um pode resolver, facilmente, ess

A figa verde e a misteriosa mulher de branco

Tive o privilégio de ler o manuscrito e poder comentar com o autor minhas primeiras impressões sobre esse livro que, meses depois, me chega às mãos antes do lançamento, como um presente precioso, em exemplar muito bem-acabado pela Editora Paka-Tatu. Minhas reações seriam possivelmente previsíveis, como serão a de outros leitores que estiveram presentes no ambiente e tempo político em que a trama se desenvolve nos revelando um autor maduro, consciente da gravidade e ferocidade do regime político que abatia a sociedade brasileira naquele momento. O texto traz 72 capítulos curtos com um alto grau de impacto psicológico por conta das diversas formas descritas de autoritarismo e violência física e moral contra crianças e adultos, provocadas por autoridades institucionais (soldados, madre superiora, governo militar...) e por um clima de permanente ameaça. Algumas passagens me pareceram familiares e fui checar nas outras publicações que eu já tinha lido de Paulo Roberto Ferreira. Confirmei q

Atrás do Tempo lança single “Os Cravos”

A partir de hoje (21/04) a banda “Atrás do Tempo” lança uma das 20 músicas que estarão brevemente no álbum “Entrelaços”. O lançamento do single “Os cravos” soma-se aos eventos em homenagem pelos 50 anos da “Revolução dos Cravos”, que se comemora no dia 25 de abril (quinta-feira), em Portugal. Inspirada no movimento que pôs fim a ditadura salazarista no país lusitano, em 1974, a letra começou a ser costurada durante o período da pandemia do coronavírus. Faz referência à luta contra o neonazismo, simbolizado pela “besta-fera” e às lutas de resistência na Amazônia, como a Revolta dos Tupinambás, em 1618, e a Cabanagem, em 1835. E, ainda, ao processo de eleição presidencial no Brasil, em 2022. A música é assumidamente inspirada em uma canção que transcende o tempo e uniu várias gerações: “Tanto Mar”, de Chico Buarque, lançada em 1975. Nela Chico também se refere a Revolução dos Cravos. Os autores de “Os cravos”, Norberto Ferreira, Paulo Roberto Ferreira e Marcelo Carvalho, evocam os cravo

O RECURSO DO PALAVRÃO PARA ENGANAR O CENSOR

O extinto jornal “Folha do Norte” publicou que a Universidade Federal do Pará estava preparando um “espetáculo subversivo”. Tudo porque a instituição tinha convidado o diretor gaúcho Lineu Dias para desenvolver o projeto de Estudo de Pesquisas Teatrais. O texto escolhido foi “Pedreira das Almas”, do dramaturgo Jorge Andrade. Depois de quatro meses de ensaio, o ator Cláudio Barradas, que interpretava o coronel que comandava uma mina de ouro no século 19, recebeu uma missão. Antes da apresentação para a censura, Lineu Dias sugeriu ao ator: “Barradas, sempre que você puder, use palavrões, eles vão se prender a isso e esquecem o resto”. Mas como ele não avisou aos demais integrantes do elenco, os outros atores pensavam que Barradas tinha enlouquecido. “O pessoal da censura cortou todos os palavrões e o espetáculo foi liberado”, conta o hoje padre Barradas, ordenado em 1992. Este depoimento está no livro “A censura no Pará – a mordaça a partir de 1964”, uma narrativa sobre o papel do regime

IMPACTOS CULTURAIS NA MEMÓRIA DE MIGRANTES ASSENTADOS NA TRANSAMAZÔNICA

Paulo Roberto Ferreira Desde o período colonial até a República, a política de ocupação do território amazônico foi baseada no deslocamento de populações de outros continentes e até mesmo de outras regiões brasileiras. Além de dominar o espaço, o processo migratório governamental, orientado para a área rural, sempre visou, também, a exportação de produtos da floresta, a produção e abastecimento interno de alimentos e criação de um mercado consumidor de bens manufaturados fora da região. As vias de penetração no território amazônico eram os rios. A busca pelas chamadas “drogas do sertão” e, posteriormente, a extração do látex da seringueira alargaram o conhecimento e o domínio sobre a região. Segundo Santos (1980) “em 1730, graças ao trabalho de missionários e dos colonos, a exportação do cacau alcançou 28.216 arroubas; em 1740, 58.910. Por essa altura o produto representava, em valor, mais de 90% das exportações regionais” (SANTOS, 1980, p. 17). Ao perceber o potencial econômico do

Crônicas de um jornalista paraense - Resenha de Gutemberg Guerra

Paulo Roberto Ferreira está confirmado como um dos bons escritores paraenses, migrando da atividade jornalística para a de contista, cronista, romancista e biógrafo. Podemos nos deleitar desde o que vem publicando como registros escritos e imagens no seu Facebook em peregrinações atléticas em que reúne amigos e devotos de caminhadas por bucólicas estradas desse imenso e diverso estado do Pará tanto quanto em suas crônicas e matérias jornalísticas que concorreriam com fortes chances de premiações por conta da consistência e rigor com que as elabora. Li com prazer o “Roubaram meu Libertango”, título que vem de uma das crônicas em que humoradamente relata algumas de suas experiências variadas da longa trajetória biográfica como jornalista e pesquisador. Busca algumas na memória, outras vai revelando como tendo sido escritas no calor da vivência e tudo em uma linguagem quase coloquial, serena e detalhada, imergindo o leitor em seus enredos e reflexões críticas. No caso específico dessa em