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Avança o projeto do “Caminho de Benedito a Nazaré”

Um proveitoso bate-papo com pessoas da comunidade de Peixe-Boi marcou a nossa etapa de caminhada no trecho entre Capanema e Jambu-Açu (São Francisco do Pará). Foram 66 quilômetros em dois dias, passando por várias vilas ao longo do trajeto, que inclui também os municípios de Nova Timboteua e Igarapé-Açu, pelas rodovias PA-242 e PA-320, que segue mais ou menos o traçado da extinta Estrada de Ferro de Bragança (EFB). Como já havíamos feito o trecho entre Bragança e Tracauteua e a etapa Tracuateua/Capanema, iniciamos, no último dia 16/06, às 5h30, com destino a São Francisco do Pará, mais um pedaço do que denominamos, provisoriamente, de “Caminho de Benedito a Nazaré”, que prevê a Rota Bragança-Belém. Neste percurso são raras a casas de pequenos agricultores. O dominante da paisagem são pastos para gado e poucas casas de vaqueiros e sedes de fazendas. A falta de árvores e, consequentemente de sombra, nas margens da rodovia, exige mais do caminhante por conta do calor, especialmente, a partir das 7 horas da manhã. Somente duas paradas de ônibus, no trecho de 18 quilômetros, facilitam a vida do caminheiro ou ciclista que por ali trafegam e precisam pausar para descansar e massagear os pés. O pórtico de Peixe-Boi fica um pouco antes do rio que corta a rodovia e anima o peregrino que deseja fazer um lanche ou tomar banho de rio para aliviar o calor. A cidade conta com restaurantes, lanchonetes, padarias, sorveterias e pousadas. Fizemos uma pausa na casa do arquiteto e bancário Augusto Barros e depois seguimos em direção ao trevo que faz a interseção com a PA-242, que dá acesso à Salinópolis. Próximo de 12 horas paramos para almoçar e descansar. Retornamos o caminho por volta das 16 horas, passamos pela cidade Nova Timboteua e seguimos até a vila de Terreirão, onde finalizamos a jornada do dia, às 17h30. Retornamos no carro de apoio para Peixe-Boi, onde conversamos com o secretário municipal de Cultura e o presidente da Associação de Moradores de Peixe-Boi. Aquelas lideranças lembram que parte do traçado da estrada de ferro, em Peixe-Boi, está ocupada por áreas de fazendas e do Centro de Treinamento do Exército. Eles estão dispostos a empreender diálogo com os proprietários por onde passava a ferrovia no sentido de recuperar a linha original para caminhada. Ficaram de articular a possibilidade da prefeitura desenvolver ações visem valorizar a história da estrada de ferro. Também estão interessados em compor o documento que pretendemos produzir e encaminhar ao governo do Estado, prefeituras, instituições de pesquisa, associações de moradores e igrejas sobre a importância da criação de um caminho permanente de peregrinação entre Bragança e Belém, a exemplo do “Caminho da Fé”, que existe entre o sul de Minas Gerais e Aparecida, em São Paulo. Livramento - No dia seguinte (17/06) tomamos café na rodoviária de Nova Timboteua e seguimos de carro até a vila de Terreirão, para reiniciar a caminhada. Quatro quilômetros depois chegamos na vila de Nossa Senhora de Livramento, já no município de Igarapé-Açu. Antes do rio, que tem uma ponte metálica, por onde o trem passava, encontramos uma família que corta junco numa área de várzea. O junco é utilizado para fazer uma espécie de esteira que fica entre o lombo do cavalo ou burro e a cela. Mas também pode ser usado para fabricação de abano e outros artefatos e peças de artesanato. Hoje só uma família da vila se ocupa da extração e confecção de peças de junco. Parte da população é de origem quilombola e se articula em torno da Associação de Remanescentes Quilombolas de Nossa Senhora do Livramento (ARQNSL). A comunidade trabalha com produtos da agricultura familiar e acalenta a esperança que a revitalização da ruína da antiga estação do trem da EFB possa vir a se constituir num centro de cultura e formação para oficinas e cursos de artesanatos, usando o junco e bambu, que também existe em grande quantidade região. Outra vila centenária do município de Igarapé-Açu é São Luís, que surgiu em 1903. Passamos por ali por volta de 10h30 e nos chamou atenção a existência de uma biblioteca instalada na parada de ônibus. A “Parada da Leitura” oferece oportunidade ao viajante de conhecer outros lugares enquanto aguarda o transporte. Tem muito livro didático e também uma coleção de “Os Pensadores”. Uma excelente iniciativa. São Luiz tem um comércio forte e a vila é bem arborizada. Próximo ao meio-dia chegamos à cidade de Igarapé-Açu, que surgiu em 1.896 e cresceu com a passagem da estrada de ferro e a chegada de colonos nordestinos do Ceará e Rio Grande do Norte, além de espanhóis, que foram instalados ao longo de toda ferrovia. Vestígios da antiga Base Aérea chamam a atenção do caminheiro. Ali funcionou uma base militar que serviu de apoio às tropas norte-americanas, durante a Segunda Guerra Mundial. O local era usado para pouso e decolagem dos balões dirigíveis que patrulhavam a costa do Pará, ante a ameaça de submarinos alemães que atuavam no oceano Atlântico. A experiência durou de meados de 1943 até o final da guerra, em 1945. Igarapé-Açu conta com boa infraestrutura de serviços, um comércio forte e representa um entreposto para os municípios de Maracanã e Magalhães Barata, na região da costa Atlântica. Nossa parada para almoço e banho foi no Ecopark São Joaquim. Depois das 15h30 partimos em direção ao município de São Francisco. Antes cruzamos com extensas áreas de dendê e uma empresa de beneficiamento de óleo de palma, instalada nas margens da rodovia até chegar na vila de Jambu-Açu, onde encerramos a etapa do caminho, às 17h30. Eu, Marcos Oliveira e João Batista Barbosa participamos desta jornada. As fotos são nossas (texto: Paulo Roberto Ferreira).

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