Gostei muito do filme “Pureza”, do diretor Renato Barbieri. É impactante e instigante. Tem sotaque amazônico, dez atores são do Pará: Dira Paes, Alberto Silva Neto, Cláudio Barros, Guto Galvão, Goretti Ribeiro, Marta Ferreira, Jefferson Ferreira, Roger Paes, Paulo Marat e Enoque Marinho. Noventa por cento da locação foi realizada em Marabá. A ficção com linguagem documental retrata o trabalho escravo nas fazendas agropecuárias e a luta de uma mãe para resgatar seu filho do cativeiro.
O papel interpretado por Cláudio Barros me fez lembrar da importante contribuição do frei Henri Burin des Roziers, frade dominicano nascido na França e que dedicou sua vida aos trabalhadores rurais na região do Bico do Papagaio. A imagem do padre Josimo de Moraes Tavares, assassinado pelas balas do latifúndio, nos remete para outros mártires da terra, como a irmã Dorothy Stang e a irmã Adelaide Molinari.
Muito valorosos brasileiros se empenharam no combate ao trabalho escravo, como foi o caso de Valderez Maria Monte Rodrigues, acreana, auditora fiscal do Ministério do Trabalho, já aposentada, coordenou um dos grupos Móveis de Fiscalização. Hoje, com 77 anos, membro do Instituto Trabalho Digno, recorda como foi importante a Lei 9.777/1998, de autoria do então deputado Paulo Rocha.
“Antes da alteração do Código Penal não existiam regras muito claras. A princípio todo mundo duvidada da nossa ação, principalmente os colegas das delegacias regionais do Ministério do Trabalho. As multas eram irrisórias. A gente produzia quilos de autos de infração que resultavam em nada. Havia uma moeda de troca, alguns negociavam as multas”.
Em depoimento publicado na brochura “Escravidão contemporânea – conquistas e desafios”, Valdirez Rodrigues relata que a lei que alterou o Código Penal “foi uma vitória fundamental”. O senador Paulo Rocha lembra que foi determinante também para a aprovação do seu projeto de lei (929/95) a participação de artistas como Letícia Sabatella, Camila Pitanga, Dira Paes, Lucélia Santos, Emílio Orciollo, Chico Diaz, Osmar Prado, Marcos Winter, Wagner Mouras e outros.
Apesar dos avanços na luta contra o trabalho escravo, vivemos hoje um período de retrocessos. Setores ligados aos latifundiários pressionam o Congresso Nacional visando alterar a Constituição Federal de 1988, o Código Penal, e a eliminação da Lista Suja. Desde o Governo Temer que os Grupos Móveis de Fiscalização estão sendo desidratados, com cortes de verbas para despesas para combustível e diárias aos servidores.
Também em depoimento publicado na brochura “Escravidão Contemporânea”, o ex-desembargador do Trabalho, Quadros de Alencar, diz que “está se regredindo para algo anterior a 1995 quando o certo era o Brasil limpar suas cadeias produtivas de trabalho forçado e degradação ambiental, em alinhamento com o chamado comércio justo, o Fair Trade”.
Portanto, “Pureza”, além de um belo filme representa uma oportunidade de pautar o debate sobre uma das piores chagas da humanidade: a escravidão (Paulo Roberto Ferreira - ilustrações: Lucídio Monteiro).
Encontrei no site MFRural(http://www.mfrural.com.br/busca.aspx?palavras=grude)o seguinte anúncio: "Estou a procura de bucho ou grude de pescada amarela ou corvina para exportar para Hong Kong/China e Estados Unidos". Trata-se de um espaço virtual onde compradores e vendedores se encontram para fechar negócios sobre produtos do campo e da água. Então pude compreender melhor a importância do anúncio que vi e fotografei na orla do município de Vigia de Nazaré, na região do Salgado, no Pará. A grude ou bexiga natatória de determinadas espécies de peixes ósseos, auxilia o animal a se manter em determinadas profundidades. Após ser beneficiada, a grude tem diversos usos, como colas de alto teor de adesão, bem como pode ser utilizado pela indústria espacial em operações cirúrgicas de alta precisão. O pescador coloca para secar por três a quatro dias a grude antes de vender por um preço que varia entre R$ 20 e R$ 30. Mas em grande quantidade o preço no mercado exportador chega até R...
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